31/05/2021 - Parceria entre os pescadores artesanais e a Fundação Projeto Tamar em Florianópolis durante a safra da tainha trazem resultados importantes para a conservação ↓
Todos anos, entre 01 de maio e 31 de julho, as areias das praias do sul do país abrigam uma das mais antigas tradições da cultura açoriana: a pesca de arrasto de praia para capturar tainha. Trata-se de uma modalidade de pescaria artesanal, que remonta ao século XVI, e reúne os pescadores para um trabalho coletivo. A atividade abrange desde o preparo e confecção das redes, o tradicional avistamento do cardume pelos olheiros (normalmente um pescador muito antigo com grande experiência em avistar e identificar a entrada do cardume de tainhas na baia), até o arrasto manual do cardume até a praia.
Reparo em rede de pesca para tainha
O monitoramento dos cardumes é realizado pelos olheiros, posicionados estrategicamente em pontos altos da praia, que avisam imediatamente os demais pescadores ao avistar a aproximação das tainhas. Após localizar o cardume, a rede é lançada ao mar com o auxílio de canoas a remo e puxada manualmente até a areia contando sempre com a ajuda de quem está na praia.
A pesca da tainha gera renda e sustento a diversas famílias e à toda a comunidade envolvida. Neste período do ano, praias como a Barra da Lagoa, em Florianópolis, onde está localizada uma das bases da Fundação Projeto Tamar, ficam totalmente reservadas para esta atividade.
Esta modalidade de pescaria está entre as menos impactantes ao ecossistema marinho, pois minimiza a captura incidental de espécies não alvos, como as tartarugas marinhas, além de conferir a chance de liberá-las vivas ao mar. Quando capturadas no arrasto de praia, as tartarugas costumam apresentar-se muito ativas, sem sinais de lesões e de afogamento, isso ocorre porque, em geral, elas não ficam emalhadas na rede, apenas nadando dentro de seus limites e, logo após a captura, elas são trazidas até a praia, junto com o peixe.
Desde que a base da Fundação Projeto Tamar foi instalada na Barra da Lagoa (2005), a parceria com os pescadores locais se deu de forma crescente e colaborativa. Quando uma tartaruga é capturada na rede, a Fundação Projeto Tamar é informada pelos pescadores e as tartarugas são levadas para avaliação veterinária, identificação com marcas metálicas, biometria e posterior soltura. Dessa forma, obtêm-se informações sobre a população de tartarugas marinhas que habitam a região.
Biometria e soltura de tartaruga marinha capturada em rede de arrasto para tainha
Na Barra da Lagoa, existem dois ranchos de pesca que praticam o arrasto de praia para captura de tainha: o rancho do Saragaço, que fica na praia grande da Barra da Lagoa, e o rancho da Atrevida, fica na prainha da Barra da Lagoa.
Nos últimos 5 anos, de janeiro 2016 a maio 2021, foram realizados 44 registros de tartarugas que interagiram com as redes de arrasto de praia na Barra da Lagoa, sendo recebidas e marcadas 29 tartarugas diferentes, 9 animais foram recapturados de uma até quatro vezes, todos da espécie tartaruga-verde (Chelonia mydas). A maioria dos registros (35) foi na Prainha da Barra da Lagoa, local rodeado por costões rochosos e com alta concentração de algas marinhas, um dos principais itens alimentares desta espécie.
Canoa do Saragaço e da Atrevida
Por conta dessa parceria com os pescadores alguns resultados interessantes foram observados, como o caso de uma tartaruga capturada pela primeira vez em maio de 2017 na praia da Barra da Lagoa e recapturada pelos mesmos pescadores em 2020. Esse animal ainda foi capturado duas vezes na rede da Prainha da Barra da Lagoa, em 2019 e 2020.
Estes dados são importantes, pois trazem informações sobre: crescimento, tempo de residência e fidelidade das tartarugas às áreas de alimentação escolhidas. Todas as informações coletadas são inseridas no Sistema de Informações do Projeto Tamar (SITAMAR)
Além da parceria com os pescadores artesanais durante a safra da tainha, a Fundação Projeto Tamar também trabalha desde 2017 em parceria com Instituto Federal de Santa Catarina e a Marinha do Brasil ministrando um módulo sobre as tartarugas marinhas nos Cursos de Formação de Pescadores Profissionais.
De acordo com o biólogo da Fundação Projeto Tamar em Santa Catarina Daniel Rogério, a parceria e o envolvimento dos pescadores na causa ambiental desde o início das atividades são importantíssimos para os resultados do Projeto Tamar em seus mais de 40 anos de existência.
- São os pescadores que estão todos os dias no mar e que interagem diariamente com as tartarugas, eles acabam se tornando nossos olhos e nossos principais aliados na conservação das tartarugas marinhas - afirma Daniel.
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