23/09/2020 - No litoral de Sergipe e norte da Bahia, cerca de 3 mil ninhos são predados a cada temporada reprodutiva ↓
Sabemos que a predação dos ninhos de tartarugas marinhas por animais silvestres é bastante comum e natural nas áreas de reprodução. Ao longo dos anos, pesquisadores da Fundação Projeto Tamar perceberam um aumento de predação por raposa (Cerdocyon thous). A real causa deste crescimento ainda é desconhecida. Existem algumas hipóteses que estão sendo avaliadas, como por exemplo, destruição de habitat das raposas devido ao aumento da especulação imobiliária, aumento do lixo na área, ou até mesmo o acompanhamento do aumento do número de desovas na região. Como as raposas são animais oportunistas, aproveitam a oferta e facilidade em achar os ninhos de tartarugas marinhas e acabam por torná-los sua refeição principal, repassando a informação para o resto do grupo.
Através do trabalho de monitoramento de praia realizado pelos pesquisadores da Fundação Projeto Tamar, observou-se que as raposas ou cachorro-do-mato como são conhecidas, possuem hábitos noturnos e percorrem as praias sozinhas ou em pequenos grupos à procura de ovos de tartarugas como fonte de proteína.
No litoral de Sergipe e norte da Bahia, aonde estão as principais áreas de reprodução de tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea), cerca de 3 mil ninhos são predados a cada temporada reprodutiva e os índices de perdas superam taxas de 40% em alguns trechos de praia. As equipes têm conseguido minimizar essa predação através de monitoramentos noturnos realizados com o intuito de proteger os ninhos antes que as raposas cheguem ao local. Durante esses patrulhamentos, são utilizadas telas de proteção de 1 m² e enterradas a aproximadamente 15 cm de profundidade, deixando o ninho protegido contra o ataque desses animais. A tela possui espaçamentos de aproximadamente 10 cm de diâmentro, permitindo a passagem dos filhotes após nascimento. Outro material que ajuda bastante no trabalho de proteção é o uso de bandeirolas que, em noites com vento forte, balançam e fazem ruídos, afastando as raposas dos ninhos.
As estratégias estão funcionando bem e os ninhos protegidos por telas e bandeirolas eclodem com sucesso quando a equipe encontra a fêmea no início do processo reprodutivo. O difícil é chegar na tartaruga antes das raposas, que já foram repetidas vezes flagradas esperando ao lado das fêmeas a conclusão da desova. Acredita-se que sem o trabalho noturno das equipes, os índices de predação seriam muito maiores e comprometeriam o trabalho de conservação das tartarugas marinhas.
Outro fator que contribui para o aumento da predação animal é a ocupação costeira desordenada, pois em algumas praias próximas de áreas urbanas, também são registradas, em menor proporção, predações por animais domésticos, que por muitas das vezes, são atraídos pelos resíduos resultantes das barracas de praia. Além de predarem os ovos, esses animais domésticos podem atacar às fêmeas adultas durante a desova. Ocorrências de tartarugas mortas ou feridas, vítimas de ataques por cachorros já foram registradas em algumas áreas com presença de ocupação humana.
Segundo os pesquisadores, também é observado que a predação é mais intensa nos trechos de praias próximas de ocupações urbanas, enquanto que em áreas mais isoladas e no entorno de Unidades de Conservação, os índices de predação animal são relativamente menores. Para garantir a sobrevivência das tartarugas marinhas, é preciso preservar as áreas de desovas e também seu entorno, uma vez que outras ameaças são decorrentes dessa ocupação desordenada, como o trânsito de veículos nas praias e a fotopoluição, que causa a desorientação dos filhotes e podem desencorajar à subida das fêmeas de tartarugas para a realização dos ninhos devido a presença de luzes artificiais em áreas públicas ou privadas.
Nesse sentido, a Fundação Projeto Tamar realiza campanhas e atividades educativas junto às comunidades do entorno das áreas de desovas a fim de informar e sensibilizar as pessoas sobre a importância de preservar as tartarugas marinhas e os ambientes costeiros.
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