27/02/2017 - É alta a mortalidade de tartarugas marinhas que se reproduzem em áreas onde a pesca do camarão é intensa. Leia mais. ↓
Dezembro/2016 foi um mês especial para a conservação das tartarugas marinhas com um aumento de 50% do número de desovas no litoral de Sergipe comparado à temporada reprodutiva anterior. A preocupação também aumentou, pois são mais tartarugas expostas às atividades humanas, como a tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea), que interage diretamente com o arrasto do camarão. No período de defeso do camarão em Sergipe, 45 dias entre dezembro e janeiro, época em que os barcos não podem capturar o crustáceo, foram registradas 55 tartarugas encalhadas mortas nas praias monitoradas pelo Tamar em Sergipe e no norte da Bahia. Após o retorno das embarcações de arrasto para suas atividades, em 36 dias, foram encontradas mortas 286 tartarugas marinhas, sendo 243 da espécie tartaruga-oliva.
No litoral dos estados de Alagoas, Sergipe e norte da Bahia, o arrasto de camarão é a pescaria que mais interage com indivíduos adultos de tartaruga-oliva, pois ambos utilizam a mesma área. A captura incidental de tartarugas nessa fase de vida, de grande importância biológica, pois levam até quase 30 anos para atingirem a maturidade sexual, é uma das mais graves ameaças à sobrevivência da população dessa espécie na região Nordeste do Brasil.
Compartilhar informações - Devido aos números alarmantes e com o objetivo de encontrar soluções para diminuir o impacto da pesca do camarão sobre as tartarugas sem que haja prejuízo ao setor pesqueiro, o Tamar convocou uma reunião no dia 25/01/2017, em Pirambu/SE. Os pesquisadores apresentaram dados dos últimos 5 anos e mostraram o aumento dos números de ninhos, assim como os de tartarugas encalhadas mortas, para representantes do IBAMA, ICMBio, prefeitura, colônia de pescadores Z-5, imprensa, pescadores e marisqueiras da região. Foram mostrados gráficos do crescimento da mortalidade de tartarugas após o final de cada defeso, vídeos e fotos de embarcações pescando em área proibida, em seguida, abriu-se a discussão para ouvir os pescadores e demais representantes. O chefe da divisão técnica do IBAMA, Romeu Botto, anunciou a intensificação da fiscalização sobre as embarcações que estiverem em área irregular nesses períodos, e que vídeos e fotos serão aceitos como denúncia. Os pescadores relataram que não capturam tartarugas durante os arrastos e que precisam pescar mais próximos da costa, pois é o local onde encontram mais camarões.
Tartarugas e camarões - O analista ambiental do Centro Tamar/ICMBio, Erik Allan Pinheiro dos Santos, relatou sua preocupação também com a exploração do banco camaroeiro. Dados mostraram que em 1982 eram retirados do mar 32kg de camarão por hora de arrasto e em estudos mais recentes, em 2007, a quantidade diminuiu para 6kg/h. O pesquisador destacou a importância de haver novos estudos nessa área com a finalidade de entender se o defeso implantado pela Instrução Normativa de 2004, o que poderia minimizar os impactos sobre as tartarugas e garantir a continuidade do banco camaroeiro. A Instrução Normativa nº 14, do MMA, de 14 de outubro de 2004, proíbe a pesca do camarão próxima à costa, entre o norte da Bahia e a divisa de Alagoas e Pernambuco, em dois períodos de 45 dias: de 01 de dezembro a 15 de janeiro, época de pico da temporada reprodutiva da tartaruga-oliva, e de 01 de abril a 15 de maio. Para César Coelho, analista ambiental do Centro Tamar/ICMBio, “considerando todos os pontos levantados, a reunião permitiu aprimorar a relação mais comunicativa entre pescadores e o TAMAR, cujo objetivo maior é a proteção às tartarugas marinhas e a redução de conflitos entre os lados envolvidos”. Foram sugeridos outros encontros como este e a continuidade e ampliação das ações de educação e sensibilização ambiental com os grupos participantes.
Tema de mestrado - Dois estudos de mestrado profissional em Ecologia Aplicada à Gestão Ambiental, que pesquisadores do Tamar Sergipe defenderam no final de 2016 na Universidade Federal da Bahia – UFBA, analisaram dados da pesca do camarão. “Causas associadas aos encalhes de tartaruga-oliva nas principais praias de reprodução no Brasil”, da bióloga Jaqueline de Castilhos, com orientação de Jeamylle Nillin e co-orientação de Daphne Goldberg, analisou dados de encalhes de tartarugas entre as temporadas reprodutivas de 2009/2010 e 2013/2014, na costa dos estados de Alagoas, Sergipe e norte da Bahia. No total, foram registrados 4.831 encalhes, sendo 41,8% de tartaruga-oliva, a maioria de animais adultos em comprovada atividade reprodutiva, capturados incidentalmente pela pescaria costeira de arrasto de camarões.
O estudo “As Pescarias costeiras em áreas de reprodução de tartarugas marinhas no nordeste do Brasil”, do biólogo Fábio Lira, com orientação de Jeamylle Nillin e co-orientação de Erik Allan, estimou que a frota de arrasto que atua no litoral sul de Alagoas até o litoral norte da Bahia, com dados de embarques realizados entre setembro de 2010 e junho de 2013 (168 barcos), captura de 624 a 1.640 tartarugas marinhas por ano. As pescarias registradas foram o arrasto de camarão (56%), linha e anzol (28%) e redes de emalhe (12%), além de outras (4%) com menor representatividade na amostra. A sobreposição de áreas de uso e outras evidências vinculam a mortalidade dos animais à pesca. O estudo recomenda a ampliação do período de defeso e da área de exclusão da pesca associadas aos programas de monitoramento das capturas incidentais, fiscalização, e contínua avaliação de parâmetros da biologia dos camarões, espécie-alvo da principal pescaria que interage com as tartarugas.
O Projeto TAMAR começou nos anos 80 a proteger as tartarugas marinhas no Brasil. Com o patrocínio da Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental, hoje o projeto é a soma de esforços entre a Fundação Pró-TAMAR e o Centro Tamar/ICMBio. Trabalha na pesquisa, proteção e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). Protege cerca de 1.100 quilômetros de praias e está presente em 25 localidades, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas oceânicas dos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Visite www.tamar.org.br
Projeto TAMAR Pirambu-SE
Telefax: (79) 3276-1201/1217
E-mail: tamarse@tamar.org.br
Projeto TAMAR: Manejo Adaptativo na Conservação das Tartarugas Marinhas no Brasil
No mês das crianças, que tal se aproximar das tartarugas marinhas?
Celebração da Oceanografia: Homenagem e Inovação em Prol da Conservação Marinha
Fundação Projeto TAMAR é convidada pelo Governo Brasileiro, para missão em Benim.