15/02/2017 - Análises bioquímicas do sangue podem prever a mortalidade tardia. Leia mais. ↓
O estudo que analisa as alterações fisiológicas de tartarugas marinhas é uma das iniciativas do TAMAR para a redução da mortalidade destes animais em decorrência da captura incidental na pesca. O principal objetivo da pesquisa é avaliar as condições clínicas e fisiológicas de tartarugas imediatamente após a captura, em três tipos diferentes de pescarias: o espinhel para dourado, o arrasto simples e o arrasto de parelha. Para isso, amostras de sangue vêm sendo colhidas em embarques que integram o projeto 'Monitoramento das capturas de cações-anjo (Squatina spp) e viola (Rhinobatos spp) por observadores de bordo nas frotas industriais de Santa Catarina', desenvolvido pelo CEPSUL/ICMBio.
A captura incidental de tartarugas marinhas em diferentes pescarias resulta em altas taxas de mortalidade tardia, efeito que pode ocorrer muito tempo após a liberação destes animais. Como conta a médica veterinária do TAMAR, Daphne W. Goldberg, assim como as mortes agudas, provocadas principalmente por afogamento, os efeitos subletais da pesca, aqueles que debilitam podendo matar, também contribuem para o declínio das populações ameaçadas. “Os fatores que colaboram com a mortalidade tardia ainda não são bem compreendidos, mas acredita-se que estejam relacionados a lesões traumáticas e distúrbios fisiológicos provocados pela captura”, explica.
Coleta de dados e análises
Até o momento, 11 tartarugas tiveram o sangue colhido, das quais oito são da espécie cabeçuda (Caretta caretta), duas verdes (Chelonia mydas) e uma oliva (Lepidochelys olivacea). Seis tartarugas cabeçudas foram capturadas no espinhel pelágico e duas no arrasto de parelha. Uma tartaruga-verde no arrasto de parelha e uma no arrasto simples. A única tartaruga-oliva foi capturada no espinhel. Os três animais capturados no arrasto de parelha apresentaram sinais clínicos de afogamento (apatia, dificuldade para respirar e espuma nas narinas e na boca) e dois deles morreram a bordo.
As análises bioquímicas do sangue das tartarugas afogadas revelaram níveis mais elevados de lactato, produto final do metabolismo anaeróbio, cujo aumento ocorre em situações em que há falta de oxigênio. Mostraram também a elevação significativa dos níveis de glicose, especialmente daquelas tartarugas que morreram a bordo. “A captura pelo arrasto leva à submersão forçada da tartaruga, o que requer maior metabolismo anaeróbio, produzindo níveis maiores de lactato. As tartarugas capturadas incidentalmente lutam para voltar à superfície para respirar e o estresse pode provocar um aumento do açúcar no sangue”, diz Goldberg.
Indivíduos capturados no espinhel, por sua vez, apresentaram níveis mais baixos de lactato e glicose. Tartarugas fisgadas por essa pescaria também lutam para escapar, no entanto, elas são capazes de subir à superfície para respirar, mesmo estando presas aos anzóis. “Isso acontece especialmente no espinhel para dourado, uma vez que o equipamento trabalha na superfície da água. Não foram observadas diferenças significativas nos níveis dos íons, sódio, potássio, cloreto e cálcio, entre as tartarugas capturadas”, completa a médica veterinária do TAMAR. Até o momento, os resultados sugerem que os níveis de lactato e de glicose no sangue podem ser utilizados para prever a mortalidade tardia das tartarugas marinhas capturadas. As informações desta pesquisa poderão auxiliar na redução dos casos de mortalidade tardia dos indivíduos capturados e liberados ao mar, e no diagnóstico de tartarugas encalhadas com sintomas de afogamento.
O Projeto TAMAR começou nos anos 80 a proteger as tartarugas marinhas no Brasil. Com o patrocínio da Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental, hoje o projeto é a soma de esforços entre a Fundação Pró-TAMAR e o Centro Tamar/ICMBio. Trabalha na pesquisa, proteção e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). Protege cerca de 1.100 quilômetros de praias e está presente em 25 localidades, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas oceânicas dos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.
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