06/04/2016 - O fato raro foi registrado em fotografias. Leia mais. ↓
Uma característica pouco conhecida da vida das tartarugas-de-couro ou tartarugas-gigantes (Dermochelys coriacea) é a localização das regiões do mar habitadas pelos jovens. No ano de 2015, alguns barcos de pesca por espinhel provenientes de Itajaí, em Santa Catarina, foram à região norte do Brasil em busca de grandes atuns. O que os pescadores não contavam é que além dos atuns também achariam tartarugas-de-couro juvenis! Esses pescadores, que já são parceiros do Tamar há alguns anos, sabiam que estavam diante de um fato raro, o encontro de juvenis dessa espécie, e tiveram o cuidado de registrá-lo em fotografias, que divulgamos pela primeira vez aqui no site.
Como sempre ocorre com tartarugas capturadas incidentalmente pelos barcos de pesca, os indivíduos fotografados foram em seguida devolvidos ao mar pelos pescadores. Quando em um barco de pesca está presente um observador de bordo, que é um biólogo ou oceanógrafo com treinamento específico para lidar com capturas incidentais de animais marinhos, as tartarugas, antes de serem liberadas ao mar, são medidas e recebem nas nadadeiras marcas metálicas de identificação, para estudos futuros.
Em todo o mundo, há pouca informação sobre a ocorrência de juvenis da tartaruga-de-couro. No Brasil, os pesquisaodres do Tamar já tinham conhecimento da existência de juvenis da espécie na região norte do país, pois no banco de dados existem alguns registros dessas tartarugas juvenis capturadas incidentalmente naquela região, sempre por barcos de pesca por espinhel.
Não se conhece a origem dessas tartarugas-de-couro juvenis, que podem ser provenientes de praias de desova tanto do próprio Brasil quanto de outros locais do norte da América do Sul, do Caribe, dos Estados Unidos ou mesmo da África. Para as tartarugas-de-couro, a única área regular de desova conhecida no Brasil localiza-se no norte do Espírito Santo, nos municípios de Aracruz, Linhares e São Mateus, que abrigam uma das menores colônias reprodutivas de todo o mundo. Embora pequena, essa população vem se recuperando ano após ano graças ao intenso trabalho de conservação que o Tamar desenvolve na região desde a década de 1980, explica o coordenador do Centro Tamar/ICMBio, Gilberto Sales.
A tartaruga-de-couro é a maior tartaruga marinha que existe, podendo atingir mais de dois metros de comprimento total. A captura incidental na pesca é apontada mundialmente como uma das principais ameaças à sobrevivência dessa espécie, e entre as pescarias que mais capturam a tartaruga-de-couro está o espinhel pelágico. O Tamar vem monitorando essa pescaria desde 1999, com a colaboração de diversos parceiros como o NEMA, o Projeto Albatroz, a UNIVALI, o CEPSUL/ICMBio e o próprio setor produtivo (empresas de pesca e pescadores). Entre 1999 e 2015 foram registradas mais de 1.100 capturas de tartarugas-de-couro na pesca por espinhel, o que as coloca em segundo lugar entre as espécies de tartarugas marinhas mais capturadas no Brasil por essa modalidade de pesca – a primeira é a tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta).
Em relação à sua situação de conservação, a tartaruga-de-couro está globalmente classificada como Vulnerável pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, como é conhecida na sigla em inglês). No entanto, a população de tartarugas-de-couro do Atlântico Sudoeste, que tem o norte do Espírito Santo como única área de desova, está classificada pela IUCN como Criticamente em Perigo – esta é a categoria de nível máximo para espécies consideradas ameaçadas de extinção. No Brasil, a tartaruga-de-couro está incluída na Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção, publicada pelo Ministério do Meio Ambiente.
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