15/01/2016 - Aliados para monitorar continuamente os cercos flutuantes e proteger as tartarugas. Leia mais. ↓
Uma recaptura de uma tartaruga-verde (Chelonia mydas) em 2015 chamou atenção do TAMAR Ubatuba/SP. A tartaruga havia sido capturada em 2003 na Praia do Camburi pela mesma rede de cerco flutuante, um tipo de pescaria tradicional da região, um recorde para o cerco monitorado há 23 anos com a ajuda do mesmo pescador, Seu Inglês. Até então, em poucas ocasiões as recapturas tinham acontecido em intervalos maiores que 2 ou 3 anos.
A base do TAMAR Ubatuba, em 25 anos de existência, já marcou e devolveu ao mar mais de 11.000 tartarugas trabalhando na pesquisa e no monitoramento das pescarias costeiras no litoral norte do estado de São Paulo. Os cercos flutuantes são armadilhas feitas de redes, utilizadas há quase um século por pescadores da região e do sul fluminense. São instalados em pontos fixos e inalterados, escolhidos e mantidos pelos pescadores ao longo de gerações da família. Esses pontos são registrados e referenciados pela Marinha do Brasil. Como conta a coordenadora do TAMAR Ubatuba, Berenice Gallo, o cerco do Seu Inglês começou a ser monitorado em 1992 e desde então já contribuiu com o resgate de mais de 1.000 tartarugas. “Felizmente, são raros os registros de mortes acidentais de tartarugas neste tipo de pescaria”, diz a coordenadora.
Em uma das visitas periódicas que os pesquisadores fazem ao seu cerco, o pescador Seu Inglês conversou com o biólogo do TAMAR Fernando Alvarenga, que contou a ele sobre a tartaruga de volta após 12 anos.
Seu Inglês: "E essazinha então? Será que ela ficou todo esse tempo aqui? Ou foi e voltou? Mas ela foi e voltou no mesmo lugar? Porque o cerco sempre foi ali. Dá pra saber se ela ficou aqui esse tempo todo?!?”, perguntou o pescador. O biólogo respondeu que provavelmente a tartaruga não teria ficado todo o tempo por ali, mas que somente através desta parceria e do monitoramento no seu cerco poderíamos cada vez mais ter respostas para essas perguntas, e que seria importante continuar o monitoramento. “Tudo bem!”, respondeu Seu Inglês, “mas tô ficando velho e quando eu parar você vai ter que falar com as crianças pra saber quem vai tomar conta do cerco, mas eu vou continuar trazendo as tartarugas, é importante".
Com a ajuda dos pescadores, comunidade e turistas, as tartarugas doentes, feridas e debilitadas que precisam de cuidados especiais são encaminhadas ao centro de reabilitação da base de Ubatuba, onde são tratadas, recuperadas e liberadas de volta ao mar.
Indivíduos de tartaruga-verde passam períodos curtos de vida em Ubatuba e em seguida migram para outras áreas de alimentação no norte e nordeste do país. Algumas retornam com incrível precisão aos mesmos locais onde foram encontradas inicialmente. Estudos com essa espécie realizados na América do Norte evidenciaram deslocamentos de tartarugas relacionados às estações do ano: durante meses frios migravam para regiões mais quentes e com a chegada do verão retornavam às áreas anteriores. Ainda não é comprovado que o mesmo comportamento seja praticado pelas tartarugas dessa espécie na costa brasileira.
A notícia de uma recaptura 12 anos depois de uma tartaruga na Praia do Camburi, ao mesmo tempo em que inspira novas perguntas aos pescadores e aos pesquisadores, reforça a importância da continuidade dos programas de pesquisas de longo prazo. Demonstra a possibilidade do uso do monitoramento de pescarias costeiras como método de estudo para obter informações sobre populações de tartarugas marinhas no Brasil.
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